sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Manabu Mabe e o abstracionismo lírico no Brasil

O pintor morreu em 22 de setembro de 1997, há 14 anos, e foi um dos principais representantes desta corrente internacional da pintura influenciada pela Escola de Nova Iorque

22 de setembro de 2011

Hoje se completa o aniversário de morte de Manabu Mabe, um dos principais pintores do segundo pós-guerra no Brasil.

Nascido em 1924, no Japão, na atual cidade de Shiranui, sua família emigrou para o Brasil ainda na década de 1930, estabelecendo-se no interior de São Paulo. Ele realiza suas primeiras obras em 1945 e atinge pleno domínio das técnicas pictóricas já nos primeiros anos da década de 1950, pintando em um estilo fortemente influenciado pela figuração expressionista.

Ao longo da década, porém, ele vai gradualmente se afastando desta pintura, até se alinhar com as correntes mais avançadas da pintura de sua época.

Nos anos que se seguem ao fim da Segunda Guerra os Estados Unidos tornam-se pela primeira vez em sua história, o principal centro criativo da pintura mundial. O movimento que inaugura esta nova etapa, consolidando uma Escola de Nova Iorque, foi a geração dos expressionistas abstratos que começa a ganhar projeção nacional e internacional a partir de 1952.

Nos Estados Unidos, esta pintura abstrata de raiz expressionista, altamente emotiva, subjetiva, executada impulsivamente, sem qualquer elaboração prévia; era produto de um forte sentimento de rejeição daqueles artistas, da aparente prosperidade que dava o tom da época. Eles eram marginais dentro daquele “sonho americano”, e sua pintura, agressiva e irracional, era uma expressão disso.

No Brasil ocorria um fenômeno econômico semelhante na aparência, mas essencialmente distinto. Os anos do pós-guerra brasileiros foram marcados também por um período de reformas e modernizações em diversos setores do País. Apesar da aparência de progresso nacional propagada pela burguesia por todos os meios, o “desenvolvimento” brasileiro, apoiava-se em um progressivo endividamento estatal. O período do governo Vargas, até 1954, foi o mais importante desta etapa do nacionalismo burguês. O mandato de Juscelino Kubitschek, porém, marcava um recuo nesta política e o estabelecimento de novos acordos econômicos com o imperialismo norte-americano.

A ideologia formada a partir desta aparente prosperidade, mais do que ocorreu nos Estados Unidos, arrebanhou a parcela mais importante da intelectualidade nacional com a idéia de que realmente o Brasil estava caminhando para se tornar um “país de primeiro mundo”, uma potência imperialista. Obviamente que tudo não passava de uma ilusão, conforme ficou claro nos anos seguintes. Mas esta ideologia de progresso, o forte otimismo advindo daí, movimentou centenas de músicos, escritores, artistas plásticos, intelectuais, que procuraram eles mesmos se colocar em pé de igualdade com o que de mais moderno existia na Europa e Estados Unidos.

Na poesia, nasceu o importante movimento concretista, que retomava as mais radicais experiências da primeira vanguarda modernista em associação com outros recursos abertos pelo vanguardismo europeu, particularmente, as experiências com a poesia visual desenvolvida pelo cubismo e o futurismo.

No terreno da música, formou-se a bossa nova, música sofisticada criada por uma camada intelectualizada da pequena-burguesia carioca por influência do cool jazz norte-americano.
Nas artes plásticas, o Brasil desenvolveu um movimento próprio de arte abstrata geométrica, a pintura concreta, que era fortemente influenciada pelas idéias do construtivismo russo.
Outra vertente desta mesma tendência vanguardista da pintura brasileira, foi o abstracionismo lírico,ou abstracionismo expressivo, cuja influência vinha diretamente de Nova Iorque.
Os principais representantes desta corrente das artes nacionais foram Cícero Dias, Antônio Bandeira e os nipo-brasileiros Manabu Mabe e Tomie Ohtake.

Ao contrário do que foi o expressionismo abstrato nos Estados Unidos, os representantes brasileiros destas técnicas não eram movidos por um sentimento de radicalismo, mas por uma tendência fortemente subjetiva. Sua ideologia artística tinha mais relação com a vertente de expressionismo que se desenvolveu na Europa, o tachismo, também sob influência da arte nova-iorquina.

O tachismo europeu surge como resultado do esgotamento das técnicas figurativas e um período de busca por novos caminhos para a pintura, então em um aparente impasse. A influência do expressionismo e do surrealismo em sua crença no inconsciente, na expressividade impulsiva, é uma base comum a toda a abstração nesta época, que em seus elementos menos radicais, desenvolveu-se como uma nova corrente de pintura analítica e decorativa.
A obra de Manabu Mabe faz parte desta tendência, que encara seu abstracionismo expressivo como um desenvolvimento abstrato do cubismo sintético de Picasso e outros.

Outra influência marcante em sua obra, e que explica a grande presença de artistas nipônicos nesta corrente, é a tradição do sumi-ê, a arte da caligrafia japonesa, cujas técnicas possuem muitas características em comum com a arte de Mabe. Suas telas da década de 1950 tem essa marca muito visível, em obras que misturam as formas caligráficas japonesas com as formas gestuais da abstração lírica.

A identificação de Manabu Mabe com o movimento europeu o faria se aproximar decisivamente do tachismo na década de 1960, se tornando a marca predominante de seu trabalho até o final da vida.

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